21/07/2009

Conto - Parte I. A Lenda de Bartô

- Tu não escaparás, bruxa! – bradou o cavaleiro. – Liberte-a!
Nem bem terminou de pronunciar tais palavras, um jogo de luzes roxas e vermelhas tomou sua visão. Ele lutou bravamente contra aquela força desconhecida, mas não resistiu e, aos poucos, foi se entregando à escuridão total.



- Este é o Santuário do Cavaleiro. – disse Letícia apontando para uma espécie de túmulo, onde a imagem perfeita de um homem estava petrificada. – Como podem ver, as roupas que o cavaleiro usa estão gastas, para simbolizar as muitas lutas que esses homens passavam em prol de seu rei.
Um menino de aproximadamente 12 anos ergueu a mão e Letícia deixou que ele perguntasse:
- É verdade que há uma lenda sobre esse cara?
- Sim, é verdade, mas não posso dizer que ela seja verdadeira, já que é uma lenda. – disse Letícia, lendo os pensamentos do menino.
Logo vários meninos e meninas da turma começaram a pedir que ela lhes contasse a lenda. Após receber um sinal positivo da professora da turma, Letícia começou:
- Tudo bem! Eu conto – disse ela por fim (“Oba!” – “Isso aí!” – exclamaram os alunos em sequência) – Reza a lenda que este foi o melhor cavaleiro que o rei Thor III teve durante todo o seu reinado. Nenhum homem ou monstro era capaz de derrotá-lo, desde que as causas da batalha fossem justas.
“O rei sabia das condições e por isso não mandaria o cavaleiro fazer nenhum trabalho sujo. Ele tinha medo de que seu mais valoroso homem fosse perdido por uma falha sua.”
“Anos se passaram, o rei ficou cada vez mais poderoso e temido pelos seus inimigos, que conheceram as lendas sobre este cavaleiro rapidamente. O reino viveu em paz, pois todos sabiam que a justiça existia pelas mãos do mais nobre cavaleiro...”

- Qual era o nome dele? – perguntou uma menina, corando rapidamente com vergonha de sua intromissão.
- Ninguém sabe dizer. – disse Letícia de uma forma teatral ao ponto de impor respeito (ou medo) em alguns pequenos rostos ali presentes. – Continuando:

“O reino era próspero, muitos queriam ir morar lá e mau nenhum conseguia penetrar as fronteiras, pois o cavaleiro com seu fiel cavalo” – ela apontou para um cavalo empalhado que estava próximo ao Santuário, numa pose de combate. – “varriam o reino e expulsavam a maldade.”.
“Depois de muito tempo combatendo a favor de seu rei e de seus princípios, o cavaleiro se deparou com algo que nunca sentira antes: a solidão. Ele tinha bons amigos, inúmeros companheiros de aventuras e muitas mulheres que queriam se casar com ele, mas nada disso impediu que a solidão invadisse seu peito e começasse a pressioná-lo de forma cruel e covarde.”
“Quando o rei percebeu o que afetava seu cavaleiro e amigo, ofereceu-se para encontrar a mulher ideal a quem o nobre cavaleiro pudesse entregar seu coração. Rei Thor III chegou a oferecer a única filha que tinha, a princesa Aurora, já que ela era a mulher mais bela de todo o reino. A princesa aceitou de bom coração, pois sabia que o cavaleiro era um ótimo partido e a faria infinitamente feliz.”
“Quem não aceitou foi o próprio cavaleiro, porque conhecia a princesa e sabia que por trás de tanta beleza se escondia uma enorme arrogância e um coração muito podre! Sendo ele um cavaleiro da justiça, jamais conseguiria viver ao lado de uma mulher que não preza pelos mesmos princípios que ele. ‘A beleza não é tudo que preciso, meu rei.’ foi o que ele respondeu quando recebeu a proposta de casamento.”
“O rei entendeu seu amigo e propôs que todas as mulheres do reino fossem trazidas para o castelo, a fim de que o cavaleiro pudesse conhecê-las e encontrar em alguma o amor que buscava. Novamente Thor III estava errado quanto os desejos de seu amigo. Depois desses erros, o rei compreendeu o que se passava no coração de seu amigo.”
“Sem demora, Thor III permitiu que o cavaleiro saísse em viagem e seguisse as ordens de seu coração. Mais rápido ainda, o cavaleiro saiu com seu fiel alazão e deixou que o destino guiasse seus passos.”
“A princesa, tomada de ódio pela rejeição que sofrera, seguiu os passos do valoroso cavaleiro. Ela estava disposta a pagar qualquer preço para que pudesse vingar tamanha vergonha que o cavaleiro a fizera passar. Ela estava cega, pois nunca tinha sido rejeitada antes, nem o seu menor desejo havia sido negado.”
“O cavaleiro andou por todo o reino sem perceber que estava sendo seguido pela princesa. Conheceu mulheres, fez novos amigos, ajudou pessoas necessitadas, fez tudo que o destino colocou em sua frente, pensando que pudesse ser o caminho para o amor verdadeiro que ele logo encontraria.”
“Mas o amor dele nunca apareceu e depois de dois anos de busca ele resolveu voltar para o castelo, pois o rei certamente estava precisando de seus serviços. Porém nesse tempo a princesa se envolveu com pessoas de todos os lugares, boas e ruins. Aprendeu a ser mais companheira e também a se virar com bruxarias. Aprendeu a amar e a odiar mais a cada dia. Ela se tornara uma mulher muito boa, mas uma bruxa muito má ao mesmo tempo.”
“Quando estava próximo ao castelo, o cavaleiro encontrou uma mulher que não reconheceu. Ela vestia roupas pretas como a noite, mas era bela como o amanhecer do dia. Ela ostentava muito poder em sua face e tinha um sorriso malicioso. O cavaleiro então pensou: ‘Será que minha busca me trouxe a esta diferente mulher?’”
“A mulher foi ao seu encontro e cumprimentou-o. Ele, sendo um cavaleiro, cumprimentou-a e eles se perderam em uma longa conversa sobre a jornada do cavaleiro. Mas nenhum dos dois dissera seu nome.”
“Quando entrou no castelo, foi recebido pelo seu amigo rei Thor III enlutado. Ao questionar o que houvera acontecido para que o luto tomasse o castelo, o cavaleiro recebeu a notícia de que a princesa Aurora fugira logo depois de sua viagem e que o rei esperava que ele tivesse notícias dela.”
“Chocado e se culpando pela fuga da princesa, o cavaleiro se ajoelhou e prometeu ao amigo-rei: ‘Meu senhor, peço perdão e reconheço a culpa por essa ocorrência, mas prometo: só volto a pisar em vosso castelo desde que a princesa Aurora aqui esteja, sã e salva! E se o pior aconteceu, eu buscarei e protegerei sua alma, onde quer que ela esteja!’. O rei ficou maravilhado com o nobre ato do valoroso cavaleiro e decidiu não intervir em seus pensamentos novamente, permitindo que ele seguisse em outra viagem. O rei apenas disse: ‘Meu amigo, levanta-te, pois falo a ti como irmão que sempre quis ser. Agradeço os teus atos e não te impedirei! Apenas te peço uma coisa: tomes cuidado, pois não sabemos o que tomou o coração de minha jovem Aurora e temo por isso.’”.
“Sem tardar, o cavaleiro saiu do castelo e foi para a taverna mais próxima, com o objetivo de dormir aquela noite e sair descansado antes do amanhecer.”
“Para sua grande surpresa, a mulher que conhecera o esperava na porta da taverna e antes de qualquer coisa ela lhe disse: ‘Não precisas buscar mais, nobre cavaleiro. Cá estou eu! A jovem princesa Aurora a ti se apresenta’. A mulher disse isso e tirou as vestes pretas que cobriam seu corpo, revelando as roupas de princesa que ela usara no dia em que o cavaleiro recusou a oferta de casamento que o rei lhe propusera.”
“Isso foi um grande choque para o cavaleiro, que só pôde pedir:”
- Por favor, minha princesa, volte para seu pai, pois ele necessita!
- Só farei o que me pedes, se tu fizeres o mesmo. Tenho um pedido. – respondeu a princesa, exibindo um doce sorriso no rosto.
- O que eu puder fazer pelo meu amigo, eu farei. – prometeu o cavaleiro, sem pensar nas palavras que pronunciou.
- Peças ao meu pai que te conceda minha mão em casamento. – disse Aurora, com uma malícia que assustou o nobre cavaleiro.
“O cavaleiro abaixou a cabeça, pois não conseguia olhar para aqueles olhos que lhe falavam e pronunciou num sussurro:”
- Não posso. Perdão!
“Tomada por uma raiva crescente e com seus novos poderes aflorando em seu peito, Aurora não conseguiu se segurar e explodiu de raiva. Uma aura cinzenta e brilhante cobriu o seu corpo, seu rosto foi coberto por um véu roxo e sua voz saiu distorcida quando ela gritou:”
- POR QUÊ?
- Não posso fazê-la infeliz, mi lady! – disse o cavaleiro. Ele não sabia o que estava acontecendo com a princesa, era diferente de tudo que ele já vira antes ou combatera.
“Não sabendo como tratar aquilo que a jovem princesa sofria, mas com a certeza de que ela era incapaz de ser maligna, o cavaleiro continuou o diálogo crendo que ainda conversava com a Aurora que conhecia.”
- Confesso que esses dois anos deixaram-te ainda mais bonita, princesa Aurora. E a conversa que tivemos provou que seu coração foi modificado, aparecendo inúmeros adjetivos a mais que possam qualificá-la como uma ótima mulher, mas o que está acontecendo contigo agora, mi lady Aurora?
“O véu que cobria o rosto da jovem princesa desapareceu e o seu rosto tornou a ser sereno e calmo. Ela sorriu com simplicidade e timidez para o cavaleiro que logo reconheceu naquele sorriso a verdadeira herdeira de seu amigo Thor III.”
- Continuas o mesmo de sempre, cavaleiro. – disse ela com sua doce voz de volta. – Mas minha condição não mudou, ainda que seus atos sejam tão nobres.
- Não posso, princesa. – disse o cavaleiro com dor no coração, baixando a cabeça outra vez.

- Essa história não tem fim, não? – perguntou o menino de maior estatura do grupo.
- Cala a boca, Fernando! – disse outro.
- É! Deixa ela contar! – falou uma menina.
- Termina, moça. – pediram outros tantos.
- Silêncio, pessoal! – disse a professora. – Ou Letícia não poderá terminar a história...
A turma toda ficou em silêncio, até Fernando, o menino que interrompera a narração, ficou quieto ao ouvir a voz da professora.

“A princesa foi tomada novamente por aquela energia raivosa que a cercou antes e o cavaleiro pôde enfim perceber que sua lady não era mais a mesma. Ele decidiu que deveria tentar libertá-la para o bem dela mesma. Tomado por sua coragem e bradando sua espada ele decidiu combater o mal que aflorava da princesa.”
- Tu não escaparás, bruxa! – bradou o cavaleiro. – Liberte-a!
“Nem bem terminou de pronunciar tais palavras, um jogo de luzes roxas e vermelhas tomou sua visão. Ele lutou bravamente contra aquela força desconhecida, mas não resistiu e, aos poucos, foi se entregando à escuridão total.”
“O rei Thor III encontrou o cavaleiro assim como vemos hoje e reconheceu que ele merecia muitas honrarias. Assim, o rei mandou que empalhassem seu cavalo – que também fora atingido pelo jogo de luzes – em uma posição de combate e criarem um altar em que o cavaleiro petrificado pudesse descansar em paz.”
“Para concluir, o rei ordenou que todos do reino ocultassem o nome do cavaleiro, crendo que só uma pessoa de bom coração, capaz de salvar a alma do jovem para sempre fosse capaz de pronunciá-lo no momento certo. Por isso ninguém sabe o nome do cavaleiro até hoje.”
“Também ninguém nunca soube o que aconteceu com lady Aurora, nem mesmo o rei que pediu buscas por todos os lugares da terra.”

Aplausos se seguiram após o término da bela e dramatizada narração de Letícia. Algumas crianças cochichavam comentários sobre a lenda e criavam prováveis fins para a princesa-bruxa.
Depois de um pequeno intervalo, a professora pediu silêncio e anunciou:
- Ok, turma. Já que todos gostaram da lenda, quero que produzam uma redação contando-a novamente e criando um fim para a princesa. E valerá nota!
Muitos reclamaram da tarefa dada. Quando o pequeno caos foi controlado, Letícia voltou a mostrar o museu para os alunos ali presentes, seguindo para o próximo bloco de obras, réplicas e originais de Michelangelo e outros renascentistas.
Continua...
.
.
"Ideias a mil!" ueheuhe
Rapaz, esse texto ficou grande! x.x
Aqui no blog ele parece maior ainda... Mas minhas ideias para ele vão além disso. MUITO ALÉM...
O nome usado para o aluno Fernando não é por acaso. Quando estava escrevendo achei que nunca chegaria ao fim... euheuheuhe
Alguma sugestão para a próxima parte?
Parte II. Renascimento.

4 comentários:

Letícia Novelli disse...

Nossa Fer ficou muito bom, muito bom mesmo
a história é empolgante =DD
e claro em todo lugar tem uma pessoa chata e geralmente com nome de Fernando pra interromper a história né
sasasahushauuhsauhsa
brincadeira
parabéns
está escrevendo muuiito
beijos

Angélica Sanches disse...

meu Deus!!!!
ficou muito massa mesmo, nossa! Parabéns Fernando :)
adorei a história
e é, tinha que ser um Fernando pra interromper hsauihosuahsa
beijos!

Amanda disse...

Eita nando, bota criatividade nisso; subiu de nível... renascimento? ideias para a segunda parte? oO olocoh... muuuitas! Você então deve estar cheio! Está sendo muito influenciado pela magia de HP, é? hahaha :D Beijão- AMANDA

Maicon Alan disse...

A Imaginação brota mesmo em algumas pessoas...
aproveite seu talento...
sucesso mermão!
Abraço!

Postar um comentário