13/02/2009

Conto - Encontro


Silas acordou assutado naquele momento. Não durmira bem durante toda a noite, estudando seu projeto que seria apresentado dali a alguns instantes no MASP.

- Desculpa, Senhor. – disse o motorista do táxi. – Parece que está acontecendo um protesto aqui na Paulista. Não consigo passar!

- Hãn? Protesto? Do que você está falando? – Silas não conseguia ligar as informações do taxista ao que seus olhos viam. Uma multidão de jovens estava a poucos metros dali e gritava a uma só voz: “Fora Collor!”. Era impossível saber quem era quem naquele mar de gente. Todos com os rostos pintados de verde, amarelo e azul anil, as cores da bandeira nacional, e vestiam preto, como num velório.

- Senhor, vou ter que deixá-lo aqui! Não tem como rodar... – alertou o taxista, tentando ser o mais gentil possível. – Me desculpe.

- Tá, tudo bem... – aceitou Silas, ainda muito sonolento, limpando as ramelas dos olhos. – Quanto ficou a corrida?

- Pode ficar sem pagar, eu apoio esse pivetes! – disse o taxista, businando freneticamente e agitando os braços pela janela do carro.

Silas desceu do carro e correu seus olhos castanhos escuros pela região. A multidão era maior do que parecia. Todos estavam agitados, alguns se abraçavam como se não se vissem a anos.

Só depois de alguns minutos que ele percebeu, seu destino estava a pouco mais de uma quadra de distância, o que era um alívio. Olhou o relógio e viu que estava adiantado o suficiente para averiguar o que era esse manifesto.

Tomou coragem e deu uma última olhada naquelas pessoas. Foi aí que viu uma mulher que aparentava ter sua idade, 25 anos, morena, de pele mulata, baixa e expressão forte no rosto. Ela ostentava muita garra e tinha um brilho diferente. Seu corpo estva envolto de uma bandeira do Brasil, mas isso não tirava sua beleza.

Como ela se parece com Marlene!” pensou. “Mas é impossível que seja ela! Aquela moreninha carioca não pode estar aqui, não em São Paulo!

Seus pensamentos voaram para a época de escola, 10 anos antes daquele momento. Suas amizades vieram à tona, seus antigos amores, suas dificuldades com a geografia. Em todos eles Marlene era o foco principal.

Ela foi o grande amor da minha vida!” pensou.

De repente, a mulher se vira e seus olhos cor de mel encontram os dele. Não precisaram de palavras para que se reconhecessem. Não quiseram falar. Ficaram ali, se observando a poucos metros de distância.

Como se fossem um só, começaram a andar simultaneamente. Eles se encotraram e se abraçaram, ainda sem palavras trocadas. O verde bandeira envolveu os dois. A gritaria em volta deles parecia ter silenciado para observá-los. Os dois conseguiam ouvir os passarinhos cantando numa árvore ali perto. Sentiam os corações acelerados. Uma lágrima caiu do olho de cada um e tocou as costas do outro ao mesmo tempo.

Palavras eram desnecessárias para aquele momento, pois o abraço simplificava tudo.

O mundo não importava mais, nem sequer sabiam se estavam vivos ainda.

- Marlene! – pensou Silas, alto o suficiente para que suas palavras fosem um sussuro ao ouvido daquela linda mulher.

- Vamos sair daqui? – Marlene fez o convite, ainda de olhos fechados e nos braços do rapaz. Seu sotaque carioca era perseptível e soava como uma música aos ouvidos daquele paulistano chamado Silas.

Apenas um olhar nos olhos foi suficiente para a resposta. Cada um esqueceu de seus compromissos pessoais para reviver aquela chama que ardia novamente em seus peitos. Silas não se importava com o Museu de Artes, Marlene não queria saber de seus protestos contra o presidente Collor. Eles queriam, apenas, um ao outro.

...

Eles seguiram viagem, mas não sei para onde foram. O que sei é que foram felizes!


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Curiosidades interessantes:
  • O primeiro protesto dos caras pintadas foi no dia 11 de agosto de 1992. Eles pediam o Impeachment do presidente Fernando Collor e conseguiram atingir tal objetivo no mês de dezembro do mesmo ano.
  • O MASP (Museu de Artes de São Paulo Assis Chateaubriand) foi fundado em 2 de outubro de 1947 e foi de onde teve início a primeira passeata dos caras pintadas.
  • Meu chará, Vsª Excelência, teve os direitos políticos cassados por 8 anos, mas voltou a política nas últimas eleições como senador (creio, eu) do estado da Paraíba.
Viram? O ano de 1992 é muito especial para o Brasil e para o mundo! Além de tudo isso é o ano que nasci!
É, meus pais não se conheceram no meio de um protesto dos caras pintadas, mas foram os seus nomes que usei! (vide post 1 xP)
A imagem com a bandeira do Brasil foi escolhida para o primeiro post porque... porque eu quis e gostei da inspiração que ela me trouxe! =D
E vocês, gostaram?

5 comentários:

Anônimo disse...

muito massa o texto...
boa sorte nessa nova divulgação...
que Deus esteja abençoando o seu talento =DD
fica com Deus

Anônimo disse...

Fer, muito bom!!!
adorei ^^ grande idéia xD
e confesso que eu realmente imaginei que eram seus pais ¬¬'
mas ficou muito MA de MARA
shauishauiohsasa
beijo ^^

Anônimo disse...

feraa o texto em caraa!! taah beem romantico :D

Matheus Souza disse...

Legal o texto fera, escreve bemm. Ficou MARA.

Curiosidades interessantes:

No dia 16 de Março de 1992, nasceu Matheus Broch Loures de Souza, com 3 quilos e meio.

ISAEHuisUEhusaeuhisauiesae
Quando você escreveu seu chará, eu pensei que era o Cardoso, mas ai que vi que era o Collor.

Abraços.

I'm FreE! ~~* disse...

além de gostar, aprendi! Nando você é uma benção mesmo! :D amo você... Amandita! ;)

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