24/02/2009

Conto - No casebre


Ah! Que saudade... – lamentou Silas perdido em seus pensamentos. – Já faz quase um mês que ela saiu pra essa maratona... isto vai me matar!
Silas estava se referindo à sua mulher Isa, com quem era casado a pouco mais de 20 anos e tinha dois filhos, um menino de 17 anos, chamado Heron e uma menina de 13, que se chamava Thais. Silas estava desempregado havia dois meses, fora mandado embora da produtora de carros onde trabalhava porque a crise mundial estava maltratando os bolsos de seus patrões. Isa viajara para divulgar seu novo livro "Poesias de noites serenas", era uma turnê por cinco estados do país e várias cidades.
- Pai, preciso falar com você. – disse Heron enquanto passava pela sala onde o pai estava sentado. – E gostaria que fosse logo, se puder...
- Tudo bem, meu filho. – assentiu Silas, balançando a cabeça em sinal positivo. – Pode falar!
- É uma coisa... sei lá... – começou Heron, no mínimo nervoso. – Tipo, tem uma garota da igreja...
- Já entendi! – interrompeu Silas. – Tenho um lugar mágico para falarmos sobre isso. Espera um segundinho que eu vou buscar a chave do carro e iremos lá.
- Tá, pai! – concordou Heron, sem compreender muito o seu pai. – Mas onde é isso? Melhor, o que é isso?
- Espere um pouco! – concluiu Silas já saindo da sala. – Sem pressa!
Heron esperou na sala enquanto Silas foi ao se quarto buscar a chave do carro e avisar Thais que eles dariam uma saída de uma hora, para ela não se preocupar que eles estariam em casa na hora da janta.
Eles entraram no Pálio prata da família e partiram. Silas estava empolgadíssimo, havia muito tempo que não tinha uma conversa “pai e filho” com Heron e, finalmente, estaria novamente naquele lugar mágico que pertencia a ele e sua mulher. Rodaram por volta de cinco minutos ouvindo apenas o som do rádio do carro. Quando estacionaram numa estradinha de terra que não levava a lugar nenhum, Heron quebrou o silêncio:
- Aonde estamos?!
- Relaxa, filho! – disse Silas, tentando acalmá-lo. – Você nem sabe onde estamos, de certo, mas eu e sua mãe temos um pequeno terreno ali na frente. Não construímos nada nele porque, bem... é pequeno e tem uma história que nos envolve! Venha!
Eles invadiram aquela estradinha de chão batido a pé e andaram menos de cem metros quando pararam em frente a um terreno cercado de arame farpado com apenas uma casa de madeira construída nos limites daquele cercado. Não havia espaço nem para um rato entre a construção e o cercado. Na parte da frente só era possível ver um espaço para a garagem, onde mal cabia um carro pequeno, a porta e uma janela com várias marcações de pedras atiradas por meninos. Apesar de aparentar-se velha demais, aquela casa irradiava segurança para os dois homens ali presentes.
Sem precisar de palavras, Silas chamou seu filho para entrar e viu que o menino estava muito assustado com o interior daquela casa. Móveis bem cuidados e limpeza feita. Um quarto com uma cama de casal nova, uma cozinha mobiliada e uma sala com sofá e TV. Esta era toda a casa: simples e aconchegante. Perfeita para quem quer pensar um pouco.
Silas convidou o filho Heron a se sentar e pediu que ele continuasse o que começou na outra casa.
- Ah, sim. Claro, pai! – concordou o filho, se lembrando de onde tinha parado. – Então... é que tem uma garota lá na igreja que, sabe, eu tô gostando dela... Assim, eu já beijei na boca e tal, mas com essa é diferente, porquê... sei lá, eu gosto muito dela e, assim, eu acho que ela também gosta de mim, sabe?! – disse Heron, agora muito nervoso.
- É, eu desconfiei que fosse algo do tipo... – disse Silas. – Mas se ela também te ama fica bem mais fácil! Basta conversar com ela. – e antes que o menino interrompesse, continuou: - OK, eu sei que é difícil falar com o sexo oposto sobre isso, eu também sofri muito para conseguir ficar com a sua mãe, e é por isso que estamos aqui!
“Aqui não foi onde eu me declarei para a sua mãe, isso foi durante um show do Erasmo Carlos que fomos de excursão para São Paulo, mas foi aqui que demos nosso primeiro beijo... Ah, que dia maravilhoso aquele 11 de janeiro de 1986! Eu me senti um deus porque tinha, finalmente, conquistado aquela bendita Isa... Posso te contar como foi, Heron?” – perguntou Silas, ao fim de seus delírios emocionais.
- Hãn...? Ah, claro que sim, Pai! – disse Heron. – Por favor!
- Bem, depois daquele show que eu te falei sua mãe ficou muito estranha comigo. – narrou, sem pressa. – Muitos ficaram zuando nós dois, mas isso não me era problema, ao contrário dela. Na época ela já escrevia algumas coisas, mas ainda não era tida como escritora de verdade... Enfim, ela ficou envergonhada e tentava o máximo que podia não ficar sozinha comigo, devia ter medo que eu a atacasse. Não a culpo, faria isso mesmo se tivesse tido oportunidade. –risos rolaram dos dois.
“Continuando: passou um longo tempo onde o nosso mais longo papo foi sobre a virada do ano, que não passou de umas pouquíssimas palavras. Eu não sabia o que fazer! Uns amigos diziam para eu desistir, outros para eu tentar uma última vez. Aí veio a luz no fim do túnel!” – os olhos dele brilhavam enquanto pronunciava essas últimas palavras.
“Uma amiga dela, Alice, me disse que ela estava muito ruim. Fiquei desesperado, pensei mil coisas e conclui que deveria ir vê-la! Fui correndo pra casa, me arrumei o mais rápido que pude para ficar apresentável e fui até a casa dela. Pra minha surpresa foi ela quem foi até o portão e estava muito bem. Muito linda!”
“Eu senti meu rosto corar aquela hora e vi o dela fazer o mesmo. Não adiantava tentar sair dali. Foi então que percebi que Alice tinha me feito um favor! Não sei de onde juntei tanta força, mas comecei a falar do meu amor por sua mãe e da preocupação que senti quando Alice veio falar comigo. As palavras saltavam da minha boca, filho, de uma forma involuntária e acelerada. Até hoje não sei como sua mãe as entendeu...”
“Sabe filho, eu senti que tinha feito a coisa certa e sentia que aquele era o momento! Sua mãe estava chorando, mas sorrindo muito! Ela me disse que iria num baile naquela noite e queria muito que eu estivesse a acompanhando. Meus joelhos bambearam com o convite! Mas concordei em buscá-la com o carro do seu avô.”
“Quando cheguei na casa dela para pegá-la fui surpreendido com um sermão do pai dela sobre tratá-la bem e essas coisas. Nada que estragasse a noite. A NOSSA NOITE! Por fim, o baile era numa fazendo a poucos metros daqui e foi uma festa e tanto! Dançamos muito e nos divertimos, sem nenhuma malícia de ambas as partes. E foi na volta que sua mãe avistou este casebre onde nós estamos agora.”
“Ela pediu que eu parasse o carro, mesmo sendo quase duas da manhã. Fiquei apreensivo, mas resolvi fazer o que ela queria, pois ela merecia! Ela desceu e foi logo entrando, como se conhecesse o local. Por sorte não havia ninguém na casa. O casebre era um pouco menos cuidado do que hoje e tinha uma idade bem menos avançada, claro.”
“Sem mais nem menos, Isa virou-se para mim e disse que me amava. Meu coração explodiu de alegria aquela hora, sentia-o saltando pela boca. Eu me aproximei dela, cauteloso, e peguei a sua mão de leve. Disse algumas palavras doces que não repito mais, só para ela em algumas noites. Nos abraçamos demoradamente e, depois de alguns minutos de silêncio, nos beijamos.”
- Caramba, pai! – comentou Heron. – Nem você e nem a mãe nos contaram algo do tipo. Nenhuma vez se quer...!
- É, Heron, isso não é coisa que se espalhe pra qualquer um... –concluiu, sorrindo com o pensamento ainda nas imagens de seu coração sobre sua amada mulher.
.
.
Estou lendo o livro A Cabana, começei anteontem, se não me engano, e é muito bom! Graças à capa do livro fiz esse texto. E fica aqui o convite para que leiam esse livro!

11 de janeiro de 1986 é a data de casamento dos meus pais! =D

Cheguei de viagem hoje e daqui dois dias é meu aniversário. Não tenho do que reclamar!

6 comentários:

Matheus Souza disse...

Cara sério, suas histórias mandam bem demaiss ! Tipo, cativa o espectador. Muito bom mesmo.

Aquele Abraço fera

Anônimo disse...

Ficou muito bom...
tem continuação???
vamos saber o que aconteceu com o Heron???
asuhhaushuashu

Continue assim que vocÊ vai longe =DD
fica com Deus
beijos

Anônimo disse...

O Fernando é um romantico =D
ahh adorei o texto, lindo mesmo =D
parabéns =D
Deus te abençoe =D
e... amanha!!!!!!! hahahahaha...

''Sr. Semensato disse...

ahhh.... esse Heron eh mt fera velho...
uhsuhahusuahhusa

c podia faze q nem us folhetos d jornais...
vai fazendu por capitulos e dps junta td e faiz u livro...
kkkkk

I'm FreE! ~~* disse...

Uau Nando! :) Você é incrível! A história me contagiou... quem sabe eu não escrevo um final para ela ;D Mais uma vez, meus Parabéns grande Amigo \o/ Amanda :*

I'm FreE! ~~* disse...

Nando, só um toque... 'Pálio' não tem acento...
o nome do carro, é normal, PALIO! :D
hueuheheuhe

Postar um comentário